terça-feira, 26 de agosto de 2014

A viagem ultra-interior: diário de bordo (parte 3 - fim de sessão)



"E ele continuava ainda a sonhar, a viajar acordado. Cada vez mais longe, cada vez mais... fundo."
Regressão 23-07-2014 (conclusão da primeira sessão)
 
 

Ato IV – Sabrina

 

Caiu de joelhos. Mãos na cabeça, mas não para abafar qualquer tipo de som, mas sim na tentativa de encontrar algum ponto de autoequilíbrio, pois tudo girava.

O coração deu uma batida em falso e a respiração se cessou por metade de um instante, quando a estrada de vidro abaixo dele despedaçou-se, e ele caiu em um abismo desconhecido.

Lado a lado junto aos cascos brilhantes que momentos antes eram o seu chão, ele mergulhou. Mergulhou em uma escuridão por um tempo indeterminante, até que de costas se chocou com um novo solo.

Quicou por uma, duas, três vezes. Até que o corpo ficou totalmente estendido, de pernas e braços levemente abertos, virado para cima. Com olhos totalmente abertos (esbugalhados de pânico) e respiração ofegante, se viu novamente com um universo infinito sobre a sua cabeça.

Uma sensação de formigamento e em seguida dormência, se viu desintegrando. Virado em trilhares de micropedaços de luz, começou a subir. Subir. Subir. Tão alto quanto achava que poderia chegar. Se sentiu espalhando-se e misturando-se com as estrelas que momentos antes ele apenas observava estirado lá do chão.

Uma sensação esquisita e totalmente libertadora o tomou por completo, pois se sentia agora em todos os lugares ao mesmo tempo. Ele era o universo, e o universo o era. Cada micropedaço que saiu do que antes o fazia “ser”, voaram em todas as direções em uma velocidade não verificável.

Cada micropedaço se transformou em uma tela que ele assimilou como se fossem TVs, e simplesmente do nada, ele se viu sentado em uma cadeira simples de madeira, em um lugar totalmente escuro (com iluminação apenas onde se postava ele e a cadeira), rodeado por imagens diversas, exibidas em telas de televisores que antes eram ele. Isso.

Foi quando ela apareceu. Uma mulher alta, de postura totalmente correta, magra, de cabelos loiros e encaracolados. Olhos verdes. Óculos redondos de armação vermelha. Traje social, saia curta, preta, e justa. Aproximou-se pelas costas dele e colocou a sua mão direita sobre o seu ombro esquerdo. Ela soltou um sorriso angelical, tímido, porem de uma sinceridade inabalável quando ele a olhou sobre o ombro.

Não soube discernir de onde veio tal pensando, que brotou em sua cabeça como se fosse parte de sua memória desde sempre.

Um nome. O nome dela, daquela moça/mulher, não havia qualquer motivo de duvida.

Era Sabrina.

***


Ato V – Soldado

 

Acompanhado de Sabrina, ele começou a observar as TVs que o rodeavam, até que uma delas o chamou a atenção. Olhou para Sabrina e esta fez com uma das mãos um sinal que queria sinalizar algo como um “aprecie” ou “vá em frente”.

Na imagem, em um tom esverdeado e com uma resolução ruim, aparecia um soldado.

De uniforme negro, segurando uma arma de duas mãos com aparência futurista, utilizava um capacete personalizado, especialmente projetado para se poder respirar em um ambiente de atmosfera contaminada. A máscara possuía grandes olhos negros, e era pontiaguda na parte frontal, com um cano logo abaixo do queixo, conectado a um cilindro de ar preso nas costas do soldado.

Observando a imagem, ele se viu como o soldado. Ele estava em um mundo apocalíptico pós-guerra sem vencedores, onde muitas armas químicas foram utilizadas, o que fez com que muitas doenças fossem espalhadas contaminando o ar, causando muitas mortes e destruição.

Observando a imagem, ele também se viu como o soldado quanto ao sentimento do mesmo. Coração e índole boa, disposto a ajudar todos ou mesmo qualquer um, mas se vendo completamente de mãos atadas, pois quase nada poderia ser feito, e absolutamente nada poderia ser desfeito. Tudo a sua volta estava se destruindo, desmoronando, e ele estava completamente sozinho, em uma luta desesperada pelo bem, mas já perdida.

Ele chorou, e Sabrina também.

Uma das perguntas pareceu então se esclarecer. Esse sentimento de solidão, angústia e apreensão que o abatia sem explicação, parecia então vir de muito, mas muito tempo, e por diversos motivos foi se agravando, e o tornando o que é.

Sabrina se afastou, as TVs se desligaram, e tudo então ficou escuro.

Uma depois da outra, fontes de luzes amarelas foram se aproximando e começaram a rodeá-lo vagarosamente, em sentido horário.

E daquele momento em diante ele soube que não estava assim tão sozinho, afinal.

Despertou.


***

Fim de sessão...

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