domingo, 25 de novembro de 2012

Só os loucos sabem



Essa é a história de Taylor Kennedy, ou TK para os intimos. Um personagem do clã malkavian que criei para jogar o RPG Vampiro: A máscara, mas que eu nunca cheguei a usa-lo, na verdade... Quem sabe no futuro eu jogue com ele =).

***

Só os loucos sabem

A história de um malkaviano qualquer...


História de um malkaviano

Aquela noite estava diferente, o vento soprava mais forte, o céu enegreceu de uma hora para outra, e as nuvens escuras prometiam um grande temporal a qualquer momento. Já se aproximava das duas da madrugada, mesmo sendo uma cidade grande, Londres estava deserta, pelo menos naquela parte da cidade. Nenhuma alma penada vagava sem rumo por varias quadras, nem mesmo um mendigo a procura de um lugar mais seguro para se proteger do temporal que estava prestes a chegar, nem ao menos um som de latido de cachorro, ou miado de gato vindo dos bueiros imundos. Nada. Somente o zumbido do vento.

Isso fez Taylor despertar.



Ainda meio atordoado, sentou-se na cama e tentou se familiarizar com o ambiente ao seu redor. Logo percebeu que estava em seu próprio quarto. Lembrou-se então porque acordou subitamente, acabara de ter um pesadelo, do qual não conseguia lembrar-se de nada.

"Malditas pílulas para dormir, tão caras e tão inúteis”, falou ele pegando um frasco de vidro no criado mudo ao lado de sua cama. Levantou-se, caminhou até o banheiro e tocou o frasco do remédio no lixo. Parou em frente a pia e apoiando-se nela, com a cabeça baixa. Uma lágrima escorreu de seu olho, logo começou a soluçar, e na sequencia mais lágrimas encheu-lhe os olhos. Vagarosamente ergueu a cabeça e olhou para seu reflexo no espelho. Os cabelos longos, lisos e negros, olhos castanhos e escuros, que agora estavam vermelhos e cheio de lagrimas que não cessavam. Estava sem camisa, podendo ver sua pele branca e magricela, com fartas tatuagens que expressavam ódio pela vida, e o medo da morte.

Mas porque chorava? Nem ele mesmo sabia a resposta.

***

Começou a lembrar de seu passado. De tudo o que havia acontecido, e por incrível que pareça, nenhuma lembrança boa lhe veio à memória.

Taylor sempre foi um menino muito rebelde, mesmo sendo de uma família de classe média alta. Talvez o fato de ter o que muitos não tinham, o fazia pensar desmerecedor de todas as coisas. A verdade era que Taylor era um depressivo nato, e sem sentido. Não respeitava seus pais, pois julgava os atos daqueles “seres inferiores” muito precários. Não apenas dos pais, mas de todos à sua volta. Por isso passou a se isolar um pouco da sociedade. Ele pensava sempre grande, e coisas pequenas não lhe faziam sentido. Para ele o mundo estava errado, e não tinha forças para tentar muda-lo. Passava muito tempo em seu quarto, em meio a suas coisas, ouvindo musica, de preferência, no escuro. Era o que ele mais gostava.

Na escola, se mostrava bem inteligente, pegava a matéria facilmente. Depois disso, ele não fazia mais nada. “Pronto, agora já aprendi”, dizia ele. Isolava-se de todos e ficava lá, olhando para o nada.

Assim passou a sua infância e puberdade. Sozinho.

Aos dezessete anos foi onde aconteceu a maior tragédia da sua vida. Taylor matou o próprio pai.

Foi em uma noite aparentemente normal, Taylor estava em seu quarto, quando seu pai entrou de repente, esbravejando, e trazendo junto a si o cheiro do álcool que consumira a pouco:

- Cansei de você rapaz. Vamos, anda! Saia já desse quarto e vá viver uma vida digna de uma pessoa comum!

- Vida? Comum? Olhe quem falando sobre vida agora, nunca se preocupou comigo... Seu bêbado desvirtuado! – Taylor falou levantando-se da cama, e indo em direção ao seu pai.

- Cala a boca moleque, olha como fala com seu pai! – Falou o velho apontando o dedo para o seu filho delinquente.

- Falo como quero, com quem quiser e a hora que eu quiser! – Taylor desafiadoramente falou para seu pai.

- Ah, mas como você pode ser assim! Não sabe usar a liberdade que tem. Fica preso nesse quarto o dia inteiro! – O pai de Taylor gritava, olhando seu filho de cima para baixo.

Taylor abaixou sua cabeça, fechou seus olhos e apertou seus punhos. Em seguida olhou para o pai, e um grito de desabafo então veio à tona:

- Liberdade? Que liberdade é essa que as pessoas não podem fazer o que querem, e quando fazem só criam merda!? Que liberdade é essa que não se tem opção de escolha, e aqueles que escolhem são recriminados pelo resto da sociedade!?! Que liberdade é essa onde o dinheiro fala mais alto que a honra, que a ganância fala mais alto que a amizade!?! Que liberdade é essa que...

Nesse momento Taylor levou um senhorio tapa na cara, fazendo-o pestanejar para o lado. O golpe foi forte o bastante para abrir um corte em sua sobrancelha esquerda.

- Por que fez isso?! – Taylor falou com a mão sobre o local do tapa.

- Por que você não sabe dar valor a liberdade que Deus lhe deu! – Disse seu pai com seriedade, apesar do seu estado de embriaguês.

- Foda-se Deus... E foda-se você também!

O pai de Taylor enfureceu-se e partiu para cima de Taylor para surrá-lo. Segurou-o pelo braço, mas Taylor conseguiu se soltar. Seu pai enfurecido voltou a atacar seu filho, utilizando-se do seu tamanho e força para tentar domina-lo por completo, mas nesse momento Taylor tirou uma pequena adaga que estava em sua cintura, era uma de sua coleção, e sem nenhum remorso enfiou-a no estomago do pai:

- Peça desculpa a Deus por mim! – Exclamou Taylor, por fim.

Essas foram as ultimas palavras que o homem ouviu ainda em vida.

Taylor rapidamente arrumou algumas roupas em uma mochila, e desceu para o primeiro andar de sua casa. No sofá da sala estava a sua mãe, em prantos e com as mãos nos ouvidos tentando não escutar novamente a discussão entre seus entes queridos. Apesar de tudo, da opressão de seu marido bêbado, e do seu filho delinquente, ela os amava.

- Me desculpe mãe, mas ele mereceu. Agora eu preciso ir. Prometo que voltarei... – Proferiu Taylor antes de sair pela porta da frente, dando as costas para toda a sua vida, e rumo ao completo desconhecido.

Agora procurado pela policia, Taylor foi obrigado a viver escondido de tudo e todos. Mas isso não foi tão ruim, afinal, era do que ele gostava! Sua pobre mãe sempre acreditou que seu filho ainda tinha uma chance e que iria um dia mudar, e escondido do marido, sempre depositou mesadas em uma conta no banco para Taylor. Isso foi o que o salvou de viver na miséria naquele momento. Pôde comprar um pequeno apartamento em uma região pobre e extremamente perigosa de Londres, onde vivia até hoje.

***

Estava ele lá ainda em frente ao espelho, e repentinamente deu um soco e despedaçou o vidro a sua frente. Cortou um pouco a mão, mas não sentia dor. Começou então a gritar, gritos de angustia e tristeza, atirou-se no chão e começou a se arrastar, parecendo não ter força para se manter em pé. Sua ira vinha de tudo, da sua vida, das pessoas, do mundo. E o pior para Taylor era não conseguir compreender de onde vinha tanta raiva de tudo.

Em um ato rápido, levantou e cambaleou até o quarto, andando de um lado para o outro. Não sabia para onde ia, até que tropeçou e caiu no chão. Ali ficou por um tempo, chorando. Após parecer não ter mais forças nem para soluçar, abriu os olhos e viu alguém deitado ao seu lado. Não acreditando primeiramente, limpou as lagrimas com as costas da mão. Olhando novamente percebeu ser seu pai.

Um grito de espanto soou no ar, e uma força repentina o fez se arrastar até encostar com as costas em uma das paredes do quarto.

- O que você quer? Saia daqui! Você não vai me levar para o inferno agora! Vá embora!!! – Após o grito, Taylor se viu sozinho novamente.

Aliviado, começou a dar uma gargalhada de felicidade espontânea, e quando viu já estava a rolar pelo chão de tanto rir. Parou então de repente e pensou o que era tão engraçado. Ficou sem resposta. Estava literalmente na beira do abismo da loucura. Passou a mão no rosto tirando alguns fios de cabelo que estavam na sua boca, e se levantou.

Foi até a janela e observou a rua. Um grande raio caiu ao longe, e a chuva estava começando a cair, mas ainda era fraca, não sendo nem próximo do que a que estava por vir.

Não sabendo o que fazer, ficou ali olhando a chuva cair por um tempo incontável, devido ao seu estado mental. Toda a sua vida era um desastre, algo que não deve servir de exemplo por ninguém, pois ele odiava a si mesmo, a tudo, e principalmente a todos a sua volta, não tendo ele motivos para viver. Mas uma coisa impedia seu suicídio, a única coisa que amedrontava Taylor era a morte. Não conseguia achar uma razão para viver, mas ao mesmo tempo preferia isto, as chamas do inferno, onde acreditava haver um lugar reservado para ele.

***

Enquanto observava a chuva, uma forte dor de cabeça começou a atormentar Taylor. Era tão forte, que parecia que sua cabeça iria explodir. Pressionou sua cabeça com ambas as mãos e foi obrigado a se ajoelhar por devido a dor. Vislumbres de imagens começaram a aparecer em sua mente, imagens tanto quanto familiares, até que percebeu que eram do pesadelo que o fez despertar anteriormente.

Mostrava-o andando em uma rua deserta, onde chovia forte, até que mais adiante, um vulto negro o esperava ao final da rua.

Tudo então parou. As imagens e a dor. Mas o que seria aquilo? Uma mensagem?

Colocou uma camisa e resolveu dar uma volta, mesmo sobre a chuva que antecedia o temporal. Morava no terceiro andar, desceu as escadas rapidamente, parecendo inclusive que alguém o esperava lá embaixo. Após pisar fora da porta do prédio, um grande trovão soou no céu e o temporal desabou de uma vez. Isso não intimidou Taylor, apenas o fez querer ir mais além, pois estava tudo tão igual ao sonho, que ele queria mesmo saber quem era aquele que o esperava na rua em meio à chuva.

Pelo pouco tempo que ficou exposto à chuva, já estava completamente molhado. Estava indeciso para onde iria: direita ou esquerda? Resolveu ir pela direita. Algo em seu subconsciente o fez mudar de ideia, então voltou e foi pela esquerda. Andou por algum tempo, realmente não encontrou nada nas ruas, apenas poças de água que ficavam cada vez maiores com a água que não cessava nunca. Uma, duas, três quadras depois ainda não havia acontecido nada de inusitado. Iria ir apenas mais uma já que estava achando que estava enganado, e tudo não passava de um pesadelo idiota.Mas na próxima quadra lá estava ele. O vulto negro em meio a rua parado, o esperando. Taylor ficou indeciso se ainda queria saber quem era aquele, mas pegou coragem e seguiu em frente.

***

Já estava próximo e o vulto não mostrou nenhum sinal de movimento. Quando chegou bem perto, viu que se tratava de uma mulher. Uma mulher?

- Pensei que não viria nunca Taylor Kennedy. – Falou a moça com as mãos no bolso do sobretudo preto e um sorriso no rosto.

“Mas como ela sabe o meu nome?”, pensou ele. Observando melhor, viu que ela era linda. Cabelos compridos até a região do meio das costas, vermelhos e lisos, os olhos azuis e pele extremamente branca. O corpo era magro e bem definido.

- Quem é você? – questionou Taylor.

- Isso você saberá mais adiante, afinal, teremos toda a eternidade para nos conhecer melhor!

Aquelas palavras marcaram Taylor, ainda confuso repetiu a pergunta:

- Quem é você? Eu te conheço de algum lugar?

- Calma TK,. Vim aqui te salvar desse mundo humano sem graça. Andei lhe observando por algum tempo, e vi que precisa de ajuda.

- Você é alguma pessoa mandada para me procurar? É da policia? – começou a falar Taylor.

- Não, eu odeio aqueles porcos, apesar deles ter um sangue doce, talvez devido aquelas rosquinhas que eles comem. – Falou ela abrindo um pequeno sorriso, puxando os lábios para o lado direito.

- Eu não gosto de falar com as pessoas sem saber o nome, me diga o seu!

- Meu nome é Isadora. Satisfeito?

“Isadora” pensou Taylor, era um nome que ele gostava. Mas o que ela queria? Aquela palavra de eternidade não saia de sua cabeça. O que ela queria dizer com aquilo, afinal? Iria matá-lo e levá-lo para o inferno?

- Esta certo, chega de lero-lero e vamos acabar logo com isso. Venha. Deixe-me lhe dar um abraço.

O que era aquilo agora? Aquela mulher era louca ou o que?

- O que você esta esperando? Não quer ajuda? – Ela de braços abertos o esperando.

Taylor estava em dúvida, mas teve uma ideia. Foi ao encontro dela, para receber o “abraço”, mas com uma das mãos as costas, tirou sua adaga da cintura. Iria matá-la.

Isadora alisou o rosto de Taylor com cuidado, e preparava-se para lhe dar algo que iria mudar sua vida. Nesse momento Taylor aproveitou e enfiou a adaga no estomago de Isadora. Por alguns segundos ela ficou imóvel, colocou uma das mãos sobre o corte recém-aberto, alisando-o com o dedo, e depois o levou sujo de sangue até a boca, lambendo-o logo em seguida.

- Bom!!! – Disse ela.

Taylor não conseguiu terminar a frase que tentou soltar ao ver a cena.

- Ah, esqueci-me de te avisar. Isso é uma das coisas que você irá receber após meu abraço. Você não morrera mais, afinal quando se é um vampiro, você já estará morto!!!

O ferimento no estomago da mulher fechou-se, e ela começou a acariciar o rosto de Taylor novamente. Taylor estava sem reação e suava frio. Ficou imóvel. Pensou em fugir, mas logo viu que não adiantaria nada. Se aquele papo de vampiro era verdade, não devia ser tão pior que ser um humano estúpido e sem graça, principalmente vivendo sozinho e como foragido da lei, como ele vivia.

Fechou os olhos, e logo veio a mordida, no começo uma dor enorme, logo se transformou em uma dor gostosa e relaxante. Taylor então apagou, e despertaria apenas mais tarde, sedento por sangue, e mais louco que o normal.

Talvez agora como um malkaviano, ele possa descobrir a verdade sobre o mundo que ele tanto gostaria de saber, apesar do preço custar sua sanidade.

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