terça-feira, 23 de abril de 2013

A ultima lembrança

doce escuridão


A ultima lembrança

O que é este frio, que está me completando, esse silêncio ensurdecedor, e essa escuridão sem começo nem fim?
Por que já não sinto mais meu corpo, não sinto mais o peso dos meus braços, nem o pulsar das minhas veias?
Memória fraca, por que falhas assim de repente e logo agora?
Lembranças? Sangue e um pouco de gloria. Uma multidão.  Pessoas assustadas, indo e vindo, desesperadas e fugindo.
Um exército e muitas lanças.  E no meio de todo aquele caos, uma criança. Tão nova ela era, não parecia ter mais do que oito invernos, e sozinha no meio daquele atual inferno, pela própria mãe clamava, perdida na mais pura agonia.
O que foi então que logo em seguida aconteceu? Aquele homem com uma criança no colo era realmente eu?

***

Em meio à chama da batalha, enfim algo bonito. Aquela mulher que aos gritos, mas sorrindo, veio então ao meu encontro.
Para ela, a criança eu entreguei então. Seguido de um gesto com a mão. Que apontava uma direção. Na esperança de salvação. Daqueles pobres inocentes e indefesos seres de sutileza e inocência.
Um olhar para trás, os demônios inimigos já avançavam muito a frente do portão da cidade. Onde estava a piedade? Não nos corações daqueles animais, que em cada ponta de espada trazia consigo o ódio que arrancava pele, osso, vida e esperança daqueles que cruzavam o caminho.
Ah, um arqueiro! Em meio a toda aquela confusão, não havia duvida de quem ele estava a mirar. Era naquela mãe e sua criança que eu acabara de salvar!
Sim, eu não pude deixar de tentar, e sem exitar, em frente à trajetória da flecha eu ousei me jogar. A flecha com toda a sua velocidade parecia rasgar o vento, e não teve dificuldade alguma para rasgar também meu coração.
De cabeça para baixo já no chão, pude fechar os olhos em paz então, pois pude ver a mulher e a criança continuarem a correr, e da direção do castelo do nosso rei, aquele exercito de luz chegando, para o mal combater.

***

E eis que minha visão enfim se apagou para nada nunca mais ver.
Agora realmente sei o que aconteceu.
Agora realmente sei o que é esse silencio.
Agora realmente sei o que é essa escuridão.
E sei que você também sabe o que se passa comigo.

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